terça-feira, 21 de dezembro de 2010


Era uma noite fria, gelada. Não ouvia outra coisa, a não ser seus próprios passos na rua deserta, e sua respiração, cansada, ritmada. Também podia ouvir as batidas do seu coração. Compassadas, como se fossem parar a qualquer momento. Antes parassem, então todo sofrimento e dor, desapareceriam. Mas não.

Olhou para as luzes dos postes, que clareavam o caminho para alguns sujeitos perdidos, como ele agora. Olhou para o clarão de luz, e pensou no fardo terrível da existência. Então olhou para si mesmo. Era um bom homem, sim. Tinha cerca de 30 anos, estava bem. Era saudável, bem vestido, formação acadêmica. E um vazio no coração. Era rico, tinha um palácio, e uma sensação de vazio que parecia lhe corroer a mente mais e mais a cada segundo. Não havia mais o que fazer. Esperar? Mas ele há tanto já esperara.

A esperança como um pássaro assustado, parecia querer voar para bem longe. Ficara em sua boca apenas o gosto da vodka, e da expectativa. Largou sua mochila preta no meio da rua, naquela madrugada fria de inverno. Foi caminhando até chegar ao poste mais próximo. E sentou-se.

Começou a passar um filme em sua cabeça, e a tontura o deixava mal. Não sabia se tudo aquilo havia sido real, ou apenas delírios, frutos de sua imaginação. Mas não, era real, ele sentia os gritos abafados que seu coração tentava - sem qualquer ajuda por parte dele, manifestar.

Ele tinha uma vida pela frente. Tinha um sonho. Queria ser alguém. Mas agora, não passava de um desconhecido, sentado abaixo de um poste de uma rua qualquer na cidade, com o coração na mão, e um resto de esperança esquecida, que seus olhos ainda conseguiam traduzir em alguns momentos. Breves momentos.

Olhou para o céu, e as estrelas pareciam lhe sorrir um sorriso amargo. Pelos seus olhos rolaram uma lágrima, talvez a última.

Nenhum comentário:

Postar um comentário