quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tá na hora de relaxar.

Senta a bunda na cadeira, e presta bem atenção, que agora a conversa é séria, meu amigo.
Não, não me venha com desculpas esfarrapadas. Eu não to nem aí pra sua planilha de projetos, seu término de verificação de custos, ou sua folha com os 20 nomes dos próximos telefonemas.
Não adianta nem me olhar desse jeito, você sabe como eu sou teimosa. Sim, eu sei que sempre acabo cedendo, mas não dessa vez. Você sabe que é sério, porque rotineiramente, eu não costumo falar nesse tom. Agora fica quieto e me escuta.
O que diabos é isso que você está fazendo com a sua vida, eu posso saber? Finge que não está entendendo, pois muito bem. Eu vou ser bem clara e franca, nada de termos muito sofisticados como o senhor está acostumado. Como assim? Oras, como assim. A situação é muito mais grave do que eu pensava.
Olhe pra você, e me diga quem é.
Não, não, não. Não quero saber teu nome, tua idade, número do CPF. Muito menos que perfume usa, a cor das suas meias, e a marca dos seus sapatos. Está brincando comigo, não é?
Desnude-se.
Não me olha com essa cara de paspalho não, não mandei você tirar a roupa. Mandei tirar essa máscara que envolve teu corpo, e tua alma. Esse véu que te cega e te impede de ver a si mesmo.
Olha pra você, cara.
Todo dia as pessoas andam por aí, vão à escola, à faculdade, ao trabalho. Ficam entocadas sabe-se lá quantas horas por dia, em um escritório, uma sala, ou seja lá o que for, a base de café, comprimido para dor de cabeça, e stress. Comem mal, dormem mal, viram escravas de si mesmas. Acham bacana vender-se, estipular um preço a si próprias, ao que sabem fazer. Chegam em casa exaustass, reclamam daqui, dali, e nada mais. Fica sempre tudo por culpa das obrigações, dos deveres, das tarefas. Ficam decepcionados com as esposas e maridos que não lhes dão mais atenção – como se ele(a) mesmo desse. Xingam a empregada, o vizinho, o cachorro, e até o papagaio. E ainda tem a capacidade de reclamar das crianças, que ficam o dia na frente de um vídeo game, ou de um computador. Alienação, o mal do século. Causa de tantas doenças modernas, que fazem as pessoas gastarem horrores, indo aos psicólogos e psiquiatras. Os motivos são sempre os mesmos: tédio, tensão, medo, egoísmo. Tristeza. Vazio.
Você tem certeza que quer deixar mesmo isso acontecer com você? Qual é, eu sei que não.
Não me olha desse jeito assustado não, ainda dá tempo de recuperar, cara. Sobe na nuvem mais alta, olha pra baixo, e grita bem alto teu sonho. Se tiver medo de cair eu to aqui, te seguro, pode deixar (se eu te soltar e você levar um esfolãozinho, é porque foi preciso, tente me entender).
Desnude-se. Mostre a você mesmo a pessoa maravilhosa que você é. Não existe ninguém no mundo igual a você. Abra teu coração, meu camarada. Não deixe a superficialidade tomar conta de você. Não deixa esse mundo caótico sufocar os teus sonhos.
É o seguinte, você tem uma alma, anda, acorda ela enquanto é tempo! Não dá pra ser feliz se camuflando desse jeito, cara. Você tem um trabalho, tem uma tarefa a ser entregue, um plano a cumprir. Mas também tem um coração. Um coração que você nem sente mais bater, de tanta coisa que faz ao mesmo tempo.
Dá um tempo, relaxa. Vem aqui, pode chorar, não tem problema. Toquei na ferida, mas era preciso, eu sei disso e você também. Ser transparente não faz mal algum. É disso que eu estou falando, agora você me entende?
Agora, só te peço um favor. Não abandones mais tua alma, ela já sofreu demais. Não preocupe, ainda há tempo de resgatá-la, mas seja rápido.
Agora eu preciso ir. Não, você não me deve nada não.
Prometa cuidar de si. Isso é tudo.