Eu queria tanto ser uma pessoa menos complexa, menos
emoção, menos complicação, menos todos esses mimimis e ataques de humor. Mas eu
sou intensa demais. Como uma erva daninha, daquelas que se você tirar uma, vem
trezentas atrás. Na verdade, quando você me poda ou tenta diminuir minha intensidade,
ela vem com força total.
Já tentei rir mais baixo, demonstrar menos as emoções,
viver aquele arroz com feijão cotidiano com que as pessoas estão acostumadas.
Mas eu já percebi, rotina não serve pra mim. Eu sou do tipo que liga no meio da
madrugada só pra dizer uma coisinha besta que esqueceu, e que aparece na porta
da tua casa numa segunda-feira chuvosa só pra dar um abraço e dizer que estava
com saudades.
Excêntrica. Ser chamada de doida pra mim é um elogio.
Será que alguém gosta mesmo de ser normal nos dias de hoje? Ser mais um tijolo
na parede, mais uma pedrinha no chão, mais um manequim enfeitando a vitrine.
O mundo está tão permeado de figuras fúteis e
superficiais que eu me pergunto o que acontecerá às novas gerações. Começarão a
comprar também sentimentos enlatados?
Eu tenho medo de barata. De tempestade. De serpente.
Mas não tenho medo de me jogar de cabeça na vida. O amor? Um dos meus piores
medos. Ainda assim, o mais compensador. Mesmo que ele me deixe no chão
sangrando loucamente sem que curativo nenhum dê jeito – ainda assim, ele vale a
pena.
Porque? É a mesma coisa que perguntar o significado da
nossa existência. Não tem sentido, mas é a coisa mais importante.
Você olha pra mim e vê aquela porra-louca que fala dos
sentimentos e da alma, que dança na chuva, que tenta desesperadamente escrever
os sentimentos tais quais ela sente, que sonha, sonha, sonha.
Que ama do tamanho do amor, e sento mais do que o
tamanho da alma. Talvez por isso toda essa inconstância. Pular as beiradas,
desgostar do superficial. A dor e a alegria de viver nos extremos. Atingir o
ápice. A ferida. A alma.