quarta-feira, 13 de julho de 2011

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       Já são 01:27 e ela está terminando sua xícara de café. Junto à cafeína que vai agora alastrando-se pelo seu corpo, as sinapses em seu cérebro aceleram-se, juntamente com as batidas de seu coração, que bombeia sangue para seu corpo e a mantém viva. Coração esse que não sente mais. Coração congelado. Não por causa dos -2°c que faz nessa época do ano na cidade, mas congelado pelas emoções. Paralisado pelas decepções. 01:30, e em meio a devaneios, música e lágrimas que já não caem, algumas conclusões que não tem fim continuam atormentando.

       Ela no fundo entende porque simpatiza tanto com os loucos, os revoltados, os excluídos, os dito excêntricos. E os sorridentes, amargos, poetas, palhaços. Talvez porque tenha um pouco de cada um deles. Talvez porque os dedos agora congelados escolham as letras certas para expor tantos sentimentos confusos. A boca rachada pela temperatura gelada que pede manteiga de cacau, e os olhos, ah, os olhos, cercados de lápis preto rente à bochecha com pó compacto. Tudo para mascarar sua história. Tudo para não notar que suas pernas tremem e o canto superior de seu lábio é comprimido contra o inferior em uma tentativa desesperadora de fuga.

       Calma, menina. 

       Eu sei que assusta. Sei que dói. Mas também sei que você é capaz. Essa ferida que fizeram ai agora, à mostra, dilacerada. Costura ela bem. Linha dupla, nó nas pontas. Hora de recomeçar.

       Não, não vai ficar tudo bem tão rápido assim. Mas temos que ter um [re]começo, certo?
       Essas olheiras aí, a sua base o seu pó compacto cobrem. Eu sei. Mas e as olheiras além deles, aqueles poços profundos que você permitiu que se instalassem em sua alma, menina?
       
       O teu lápis preto não cobre as cores da vida, menina. A amargura do teu coração.

       Pega lápis de cor, vamos. Agora pinta por cima. Fica feio? Nada! Como artista de sua obra você tem que no mínimo aprovar. Se aprovar.

       Se olhar no espelho e ver as cores da vida em você.

       Pintar sua alma.